Ricardo Henrique Andrade
Professor de Filosofia da UFRB – Amargosa
Email: reseandrade@gmail.com
Se a profissão do brasileiro é a esperança, a do professor deve ser o desencanto. No início do seu governo, em 2007, Wagner enfrentou uma greve de professores com a força do otimismo das urnas. As razões da greve foram as de sempre: reflexos do abandono histórico que vitima a educação pública na Bahia. Mas na origem da mobilização havia um imbróglio de bastidores. O então Secretário de Educação, Adeum Sauer, prometeu numa reunião com sindicalistas que realizaria eleições livres para direção das escolas. A jura entusiástica de Sauer precipitou os anseios por uma transformação que fosse radical, coerente e imediata. Os dirigentes sindicais entenderam que estavam autorizados pelo governo para agir e tentaram organizar por conta própria o sufrágio para expurgar o ranço do carlismo que ainda ocupava os cargos da gestão escolar graças a uma rede de clientelismo consolidada por décadas.
Durante o período de acomodação das alianças políticas o governo retardou a iniciativa e as eleições só foram realizadas nas escolas meses depois. A figura de Sauer, entretanto, contribuiu para contornar momentaneamente uma crise de confiança que começava abrolhar entre o governo petista e os professores. Educador reconhecido e com um currículo de serviços prestados à educação pública, Sauer encarnou por alguns meses a expectativa contida da categoria de que as coisas finalmente fossem mudar. Na época, seu empenho em defender os interesses dos professores contra um núcleo duro que blindava o orçamento do governo conquistou votos de confiança, afinal esperava-se que uma Secretaria comandada exclusivamente pelo PT que minimamente valorizasse o trabalho do professor como condição indispensável para uma educação de qualidade.
Porém, esgotado o prazo de paciência dos apoiadores, o Governador trocou de Secretário e com isso abortou um projeto de renovação que começava a dar frutos. Ao colocar em seu lugar Osvaldo Barreto, um administrador com perfil estritamente técnico, Wagner fez uma opção pessoal e estratégica de eliminação das formulações político-pedagógicas que estavam em curso. O atual Secretário é uma personagem sem qualquer carisma público e a julgar pelo que faz e diz parece também ignaro em matéria de educação básica. Não tenho dúvida de sua austeridade, da sua capacidade e de sua índole pragmática, que convém ao perfil de sua formação. Contudo, em quatro anos na pasta tem se revelado um negociador inapto para solucionar as questões políticas inerentes à educação. Pior que isto, o atual Secretário tem se mostrado um gestor incapaz de estabelecer um horizonte minimamente inteligível para mudanças necessárias e urgentes.
A partir de 2009 começou uma operação de desmonte político, cujo fito primordial foi atender as demandas dos aliados de ocasião no preenchimento dos cargos das DIREC e de outros tentáculos da SEC em todo Estado. Em 2011, Wagner demitiu sumariamente o Diretor Geral do IAT; e ao atingir um projeto que em pouco tempo havia prestado relevantes serviços à formação de professores na Bahia – consequentemente promovendo a valorização desses profissionais – seu governo selou o desprezo que parece nutrir pela categoria. Se há algum norte para educação nesta gestão, ele não abarca a valorização do magistério. Como disse um amigo policial: “se Wagner pudesse, alocaria a Força Nacional de Segurança para dar aulas durante a greve dos professores”.
A Educação concorre com a Segurança Pública ao “troféu desencanto” do governo “de todos nós”. Todavia, é mais fácil explicar o fracasso na área de segurança do que desatar os “nós” das questões de educação. É compreensível o fato de que políticos oriundos da esquerda pareçam não saber como gerir as instituições que os perseguiram e os torturaram há bem pouco tempo. Mas como explicar a negligência do primeiro governo de esquerda do Estado da Bahia com a valorização dos professores? Uma vez no poder, Wagner repetiu todas as desculpas e reproduziu algumas práticas da direita execrável que ele combateu obstinadamente na Bahia por tantos anos. Os problemas insistem em ser os mesmos, o descaso também.
(Texto autorizado pelo autor e originalmente publicado no Jornal "A TARDE" - Opinião A2, em 29/05/2012)
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