Irenilson de Jesus Barbosa
Foto: Spencer Tunick, no Mar Morto (Israel) |
Ouvi dizer que, ainda ontem,
um professor ficou nu
Me digam! Me falem! Me
contem: será que ele surtou?
Teria perdido o cursor? Tão
longe dos mares do sul...
Que fato ou dado impreciso sua nudez desenhou?
Que fato ou dado impreciso sua nudez desenhou?
Cresci ouvindo dizer que nu quem
ficava era o rei,
Mas ontem eu escutei que é o
professor quem está nu...
Que nudez avassaladora! pena
que não confirmei!
Qual era a cor? Eu não sei, nem
se era pink ou era blue.
Alguém contou com alarde:
Gente, olha o que aconteceu?!
Cenas de filme da tarde,
quase ninguém entendeu.
A nudez desse plebeu, já é
coisa há muito sabida,
Mas com esse traço de vida,
parece que não se inscreveu.
Ele estaria irado? sentia-se
um tanto ultrajado?
Tinha, talvez, se molhado e
carecia de troca?
Ou se sentia na toca, como
roedor humilhado?
Na doida desse coitado, qual
o recado que brota?
Ei! Peraí, qual o nome? Deve ter nome o nudista!
Fotografaram o artista? Cursistas,
filmaram o fulano?
Será que guardaram os panos,
ou preservaram o cenário?
Alguém fez um inventário das
vestes desse cicrano?
A nudez é emblemática, o
quanto se pode pensar.
Alguém pode analisar o que
lhe vinha à cabeça?
Algum comentário se teça ou
se nos permita calar!
Talvez, ao se pronunciar,
algum elogio mereça.
Talvez sua nudez nos revele
sua insatisfação
Com os rumos que a educação
tem nessas terras tomado.
Gemendo o professorado, ralha
em sua aflição;
Enche-se de comoção, faz-se,
então, desnudado.
Chamem, pois, a segurança!
Chamem a administração!
O homem com os panos no chão,
exibe os penduricalhos!
Será que tomou um atalho?
Chorou com a humilhação?
Não me contaram, senão meu
texto não seria tão falho!
O professor está nu, nudez
completa agora!
Pôs o seu sonho pra fora, mas
se encontrou no relento.
Na luta cede ao vento, não
mais suporta a demora:
Nudez! Ninguém se controla! Haja
tristeza e lamento!
O professor nu é culpado? É
desse lado que está?
Ouso eu me reservar de
condená-lo assim!
Queria mesmo ao clarim, a
cada um perguntar:
O professor nu está, mas quem não está nu assim?
* Poesia escrita à partir da
notícia de que um professor resolvera tirar sua roupa e ficar nu em público, durante um curso de formação
continuada oferecido pela SEC-BA, nas dependências do IAT (Instituto Anísio Teixeira) em 08/07/2009. Eu era servidor do IAT e
fui desafiado aos versos pelo inusitado fato. Reedito, agora em razão da
constatação de que a nudez e o aviltamento do professor na Bahia e em todo o Brasil é cada vez
mais evidente, apesar da desfaçatez de políticos, governantes e empresários que
menosprezam a educação e os educadores, apesar de seus discursos cínicos e
vazios sobre a importância da educação. Nu... “nu em pelo!” como diria minha
velha e sábia mãe...
Lembro-me do fato gerador da poesia e da situação, no mínimo esdruxula, amenizada pela poesia divulgada em e-mail corporativo. Saudosas recordações.
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