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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

POIESIS DO IRÊ: UMA INTERPRETAÇÃO


Busquei um título para o blog... e a idéia inicial era construir um  instrumento de divulgação  e mediação de discursos e de interpretações de fatos, sentimentos, idéias, atitudes, contingências e pontos de vistas. Desejei não me associar com polêmicas associadas ao termo a ser usado ou ter uma preocupação demasiadamente filosófica com a sua hermenêutica, mas persisiti no interesse de instituir um espaço interpretativo on line...
Depois de alguns experimentos e tentativas, veio à luz o nome "Poiesis do Irê". Irê é uma abreviação, forma construta e carinhosa com a qual alguns poucos amigos me chamam. Mas o que vem a ser poiesis? 
Ferraz diria que se trata de "um entre-lugar onde criação e criatura forjam diferenciações, limiares de intensidades, talvez, só experimentados na arte — a experiência da criação" 2
Ferraz ainda assevera diferencia a idéia de criação em relação ao criacionismo cristão, alegando que o criacionismo não vê potência no caos, mas isso é também uma interpretação. 
Ao meu olhar, porém, é do caos que o Deus cristão cria tudo quanto existe e o faz pela sua palavra... quando tudo parecia sem forma e vazio...em caos (Genêsis 1.1 e segs.). 
Nesse sentido, a existência é também poiesis, criação poética, elaborada e laboriosa de tudo quanto existe...
Parece-me correto afirmar que "a experiência da criação poética provoca uma abertura na existência, onde a pluralidade dos processos de diferenciação permite a composição de novos valores vitais, novos modos de subjetivação — a constituição de um novo território existencial. Ou seja, a criação poética é autopoiesis, já que no território da criação se constroem criação e criatura. O que está em jogo na criação poética é a reinvenção de si mesmo (...)"
A poiesis do poeta não se antagoniza com o trabalho árduo e disciplinado do educador, pesquisador ou cientista, visto que o labor também é proprio do que cria a vida em versos. Cada reflexão postada poderá vir a ser, na verdade uma autopoiesis como forma de ser-no-mundo para inventar modos de vida, modos de subjetivação, interpretações do ser e existir no mundo das pessoas, das coisas e dos seres.
A poiesis pretendida neste blog é reflexão no corpo e no espírito. Conforme Spinoza4, podemos dizer que o espírito é uma idéia do corpo, portanto uma afecção do corpo. Mas uma afecção topológica, épica, na medida em que é o agente da sensibilidade. Daí, se diz que a  sensibilidade é o liame entre o limite do corpo e o limiar do espírito. A palavra traduz os sentidos e o não sentir de cada corpo...
Também acredito que criação poética confere singularidade à palavra, e provoca a experimentação do não-sentido, da angústia, e de novos sentidos, da alegria. O poeta brinca com as palavras, do não sentido a todos os sentidos e, nesta viagem, explora novos territórios existenciais e leva consigo aqueles se lançam na experiência.

Quando pensamos na vida como fazer e interpretação do que fazemos ou que outros fazem, é em nossa própria existência que estamos pensando. Interpretar é também, em certa dimensão, interpretar-se e interpretar-se é também realizar-se.
Realizar, em grego, se diz: poiein. De poiein se originaram as palavras poeta, poema e poiesis. Dai se derivou a poética, como reflexão em torno do que eclode em todo poiein. É a interpretação filosófica do que é a arte, isto é, o poeta, o poema e a poiesis.
Todo interpretar, desde sua origem no verbo grego hermeneuein (= interpretar) resulta em um agir que implica: diálogo, ethos, especulação. E como sabemos, agir se diz em grego também poiein. 
Agir de forma criativa na minha humilde companhia se diz, agora, poiésis! O meu e o seu fazer, agir, criar, interpretar. Sempre em fluxo, como em fluxo é a vida que vivemos. É a sua, a do outro, Poiesis do Irê, a nossa poiesis!
Venha, seja, crie, realize, interprete, cante dance... viva a vida em poiésis!
Abraço e cheiro do Irê!