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domingo, 12 de agosto de 2012

UM DIA DE SAUDADE


Irenilson de Jesus Barbosa[1]

















O dia amanheceu com uma saudade doída
De uma pessoa querida, seus gestos e seu olhar;
O dia amanheceu faltando um pedaço da vida,
Com sombra adormecida querendo fazer-se notar.

O dia se fez tão aquém, trazendo uma falta danada,
Deixando a voz embargada, o olhar perdido no além;
Trouxe a saudade de alguém, e uma lacuna malvada,
Deixando a boca calada que ainda assim se mantém.

O dia trouxe memórias e restaurou as lembranças,
E recordou da criança, a que tem no pai seu herói,
Um vulto que se constrói no refazer da esperança,
Essa que nunca descansa quando a saudade mais dói.

O dia nos fez lembrar daquele ausente sorriso,
E do gracejo impreciso, a cada oportunidade.
Na sua generosidade, no seu bom humor incisivo,
O amor de um ser decisivo que nos fez ser de verdade.

O dia se deu ao desfrute de até amanhecer cantando,
Mesmo se alguns estão chorando, com dura realidade;
É que ele vem, na verdade, a tantos assim consolando,
Pois, quem está no tempo faltando, não falta na eternidade.

O dia que amanheceu nublado, chuvoso e meio assim,
Com meu sorriso chinfrim, entre parcos cumprimentos
Achou o seu melhor alimento nas notas, quase sem fim,
Tocadas pelo clarim do meu relembrar bons momentos.

O dia trouxe um chamado pra renovar a certeza
De que aquela falta na mesa, é falta do coração;
Mas também é emoção, saudade que tem sua lindeza,
Pois enquanto a falta é tristeza, a fé é consolação.

O dia trouxe pra mim, lembranças do meu marinheiro
Velho garboso, altaneiro, envolto em simplicidade;
Das falas, risos, bondade, quase um matuto, roceiro;
Se pensar nele, ligeiro, assim me vem a saudade.

O dia me lembrou da voz, do tom bem pouco sisudo,
Doce velho bigodudo, de quem me lembra o espelho,
Do papé... dos bons conselhos, do apelido Miúdo,
O peito farto e peludo onde deitei, qual fedelho.
  
O dia trouxe, entre tudo, uma certeza bondosa,
A de que o velho tão prosa, só me deixou alegria,
Música viva, eufonia, cheiro de árvore boa e frondosa,
E a saudade desditosa converteu-se em cantoria.

O dia ficou festivo, crendo que a dor dessa tristeza
Que as vezes vem com agudeza, perdura só um instante.
Pois, pais e filhos amantes, com ou sem faltas à mesa,
Sabem que no além-tristeza paira alegria reinante.

Fica a canção entoada, em verso rico, orgulhoso,
Que nos invade de gozo, nessa promessa sem par,
Dizendo que o que semear, mesmo que seja choroso,
Em bom porvir, mui faustoso, irá cantar ao ceifar.


[1] Uma poesia feita no Dia dos Pais (12/08/2012), em memória de Irênio Barbosa, meu saudoso pai, falecido em (10/08/1924 - 29/12/2006). Meu desejo é que a mensagem conforte e renove a confiança em Deus àqueles que a lerem em meio à igual saudade, marca indelével da ausência daqueles que amamos.

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