Uma breve homenagem à memória do amigo Fritz Mohn
Irenilson de Jesus Barbosa
Diácono Fritz Mohn - Cristalina - Goiás |
A
notícia me chegou hoje (27 de abril de 2014), pouco antes do almoço. Um amigo guardado no peito se
foi... Partiu ao encontro do Eterno que o amou sem reservas (João 3.16). Mas
esse não viveu distraído quanto á iminência desse amor e nem mesmo dessa hora: Era um homem de Deus. Na
verdade, um exemplo raro de homem de Deus
que também era um homem do povo. Fiquei em silêncio por uns momentos... só
depois dei a notícia à minha esposa, Luciene. Comedida, ela também exclamou: “Oh!...” Nos contivemos nas palavras, como Fritz talvez fizesse também ao ouvir sobre
algum infausto...
A mente
viajou no tempo enquanto eu revia a sua foto postada por outro saudoso amigo da
Serra dos Cristais. Lá vivi por dois anos com minha esposa e filha primogênita.
Lá tive meu filho homem, que deixou a cidade aos três meses de idade e ainda
não voltou, talvez por um imperdoável descuido meu - afinal, já são mais de 18 anos... A memória recuou no
tempo, ressuscitando emoções vividas há cerca de 20 anos. Em Cristalina estive entre 1994 e 1996. Amei e sei que fui amado, fiz amigos, preguei,
cantei, andei, ajudei a construir o Centro Batista de Assistência Sócio-Cultural,
festejei vitórias, não contabilizei derrotas, muito sorri e quase não chorei.
Lembro
apenas de um choro naquela cidade. Chorei abraçado a algumas de minhas ovelhas
na despedida de meu pastorado na Primeira Igreja Batista de Cristalina, a qual
sempre sublinhei em meu currículo pastoral. Subitamente lembrei que um daqueles
abraços chorosos muito me comoveu, era Fritz Mohn lamentando minha decisão e me
perguntando com os olhos se aquela era mesmo a vontade de Deus. Ele, sempre reservado, comedido, não parecia
ser dado àquelas emoções, mas se permitia deixar aflorar a sua humanidade. Mas
o momento confirmava o que já me parecia claro: Fritz era daquelas ovelhas –
modo como apelidamos os membros das igrejas batistas – que sabem amar sem fazer declarações.
Era homem
de poucas palavras, mas sempre vi nos seus olhos que ele sabia amar como
poucos. Sabia amar sua cidade à qual servia como político eleito para vários
mandatos de vereador, prefeito e vice-prefeito. Sabia amar sua família, pela
qual intercedia regularmente em nossos cultos de oração. Sabia amar sua igreja,
a qual ajudava a manter como se o fizesse a si mesmo, pois ele sabia ser
igreja, ser líder e ser liderado como só os grandes servos sabem ser. Era o
vice-prefeito quando foi minha ovelha, mas era dócil como a menor ou mais
simples das ovelhas e jamais se permitiu ou deixou que alguém se permitisse confundir
seus papéis públicos e privados. Lá, ele era apenas o nosso irmão Fritz, ou “Seu Fritz", como alguns o chamavam respeitosamente.
Na chegada
e na saída tive certeza: Fritz sabia amar seu pastor. Ele soube me amar e
também respeitar e cuidar de minha família como diácono fiel às Escrituras
Sagradas, pela qual procurava nortear sua vida. Lembro-me de Fritz cuidando de
mim e de minha família, como seu pastor em dois momentos marcantes. Na primeira
noite que passei na cidade, acompanhado de minha esposa e filha, conhecemos o então
rigoroso frio da amável cidade. Pela manhã, ao saber do ocorrido, Fritz nos
levou para comprarmos edredons. Recém-chegados
da calorosa capital baiana, nem conhecíamos bem o que seria um bom edredom. Fritz nos levou à loja (acho
que pertencia a uma de suas filhas com a igualmente zelosa Olga Mohn, se a
memória não me trai) e nos ajudou a escolher o melhor, com a habitual
discrição.
Foram
muitos os momentos bons à frente da pequena igreja, que já contava setenta
anos. Dois anos de bênçãos e a companhia
de pessoas como Fritz fizeram a estadia prazerosa e bem sucedida. Na minha saída, Fritz era também o tesoureiro
da igreja. Num tempo em que os pastores são acusados de exploradores, aproveitadores, ladrões e que tais pelos desavisados que se espelham em impiostores midiáticos, não me
constranjo em relatar o ocorrido. Fritz fez os cálculos de quanto eu teria direito a receber como gratificação pelos serviços pastorais e descobriu que
era menos do que o valor do transporte de minha mudança até Salvador. Pensou... mas não
titubeou. Conferiu comigo o valor da mudança e me deu um cheque pessoal com um pouco
mais que o valor equivalente à despesa. Abraçamo-nos de novo, ele me agradeceu
pelos serviços prestados à amada igreja; eu retribui os agradecimentos e ele me viu
saindo de sua casa, olhando pela janela. Acho que aquela foi a última vez que o
vi. Hoje, pouco mais de 11:30 da manhã, antes de saber da notícia, encerramos cantando o Hino 475 do Cantor Cristão (o mais antigo hinário dos batistas
brasileiros) na Igreja Batista Káris. Enquanto cantávamos, vi as iniciais de Salomão Luiz Ginsburg
impressas nos créditos do hino e lembrei de Cristalina, pois Ginsburg foi o
pastor-pioneiro da mesma. Creio que Fritz o conheceu. Lá cantávamos com
entusiasmo ímpar os mesmos hinos tocados pelo então pianista (hoje pastor) Gabriel Souza
Ferreira, no antigo órgão deixado na igreja por aquele pioneiro de tantas façanhas e canções que compõem a tradição batista no Brasil. Silenciosamente,
agradeci a Deus pela oportunidade de ter andado na mesma senda de gente como ele.
Agora, porém quero homenagear à vida e memória de Fritz, como um homem que sabia amar em silêncio. Nada me parece mais lindo e nobre que saber amar. Mas amar em silêncio,
traduz uma forma do amor em sua grandeza, em excelência. Político testado e
aprovado por seu povo em diversos mandatos, ele foi um homem de bem. Parecia
contradizer a arrogância de alguns que exercem essa profissão com sua aparente
e sincera brandura. Não era dado a elevar a voz. Pelo menos, não o fazia na
igreja, ainda que fosse equilibrado, enérgico e respeitado como um líder. Pensando
nele, lembrei de Leonardo Da Vinci, quando este teria dito: “As mais lindas
palavras de amor são ditas no silêncio de um olhar”.
Agradeço a Deus pela vida deste servo
de Deus e por ter convivido e lutado ao lado dele pela fé cristã em Cristalina,
onde também oramos pelo Brasil e pelo mundo. Mesmo ciente de que tinha defeitos,
só me ocorre agora as suas virtudes e louvo a Deus por elas. Hoje, no Culto
Vespertino da IB Káris, em Salvador, o mencionei na pregação e orei para que Deus
conforte à família enlutada. Sei que Deus enxugará toda lágrima de tristeza e
fará surgir em cada rosto da família Mohn e dos amigos um riso de esperança num
reencontro na eternidade como o Deus Eterno, com o qual estou certo que Fritz
já desfruta a eternidade. Esta certeza advém do fato de Fritz nEle confiava e a
Ele entregou a sua preciosa vida, para sua redenção e para a glória exclusiva
de seu Senhor... Sua memória continuará nos
servindo de inspiração e gratidão a Deus. Isso também consolará os que agora choram
de saudade. Pessoalmente agradeço a Deus pela vida de Fritz Mohn, em nome de
minha família, e o guardarei na memória e no coração como uma ovelha ilustre
que tive, mas sobretudo como uma ovelha á qual amei e que soube amar a mim e
aos meus... Um homem que sabia amar em silêncio. “E o seu senhor lhe disse: Bem
está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei;
entra no gozo do teu senhor.” (Mateus
25:21)... No mais, enquanto o tivermos apenas na lembrança, sentiremos, saudade!
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