NAS MESMAS CURVAS[1]

Prezad@s,

Tentando ainda absorver o duro fato de perder um colega de trabalho na UFRB, decidi compartilhar o que me vem como reflexão, como se fora a minha parca homenagem a quem se foi tão precocemente e àqueles que hão de continuar na mesma luta, renovando a esperança e a fé nos generosos cuidados de Deus, esse que ora se apresenta como melhor reduto aos que crêem.

NAS MESMAS CURVAS[1]

Irenilson Barbosa

 

Nas mesmas curvas, seguimos viagem,

E nas paragens nos detemos tortos.

Quanto absortos, dura a voragem,

Sofre a coragem, ante os amigos mortos.

 

Nas mesmas curvas, a vida é tão finita!

No peito grita uma angústia enorme.

Enquanto informe, em nós a dor agita,

O que nos fica é um pranto desconforme.

 

Nas mesmas curvas, a vida se confunde,

Enquanto infunde-nos o seu limite;

Não nos concite a que nos aprofunde.

Nem nos inunde o triste som que emite.

 

Nas mesmas curvas, onde nos perdemos,

Também vivemos a buscar mais vida.

Qual a guarida? Quase nunca temos!

Então, gememos: ah, dor desiludida!

 

Nas mesmas curvas, sentimos pavores,

E nos horrores dos percalços fartos;

De falsos partos, sentimos as dores,

Entre as flores e os seus espartos.

 

Nas mesmas curvas, nos desembrenhamos,

Mas esperamos bom conforto agora.

Porque lá fora, ainda nos desviamos,

E derrapamos, à dor que então vigora.

 

Nas mesmas curvas, pedimos cuidados;

Não sejam dados jovens tão precoces.

Quando quedamos todos abalados,

Que alguma outra reação se esboce.

 

Nas mesmas curvas, buscamos consolo,

Nos desaforos de tantos descasos;

Os olhos rasos dão ao peito um bolo

De um desconsolo a duvidar do acaso.

 

Nas mesmas curvas, só acho em Deus conforto,

Meu verso torto ainda mantém a fé.

Só o que é Senhor de cada corpo,

Só um anticorpo ainda nos põe de pé.

 

Nas mesmas curvas, onde as palavras dóceis?

Busquei nos fósseis renovar as forças.

Que Deus nos ouça e que a tristeza acosse,

Antes que, à posse, a vida se distorça!

 

Além das curvas há mais que morte e pranto;

Também há canto, além, num bom lugar;

Lá no findar da linha, há sim consolo!

Verso sem dolo... é sábio acreditar.

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[1] Uma reflexão em meio à consternação pela perda de um colega em acidente nas curvas da Rodovia Santo Antônio de Jesus/Amargosa, na Serra da Jiboia. Uma homenagem a Eliseu Santiago de Assis, Professor Assistente do CFP, também Coordenador da Licenciatura em Matemática no PARFOR da UFRB e a todos os que laboram entre o ir e vir pelas mesmas, perigosas e abandonadas curvas. Salvador, 27/11/11.