TEU PASSAR...
Irenilson Barbosa.
Ao ver passar teu rio, desesperei de tudoE suspirei tão mudo, ante teu calafrio.
Tentei não ser vazio, armei-me, pus o escudo,
Mas teu olhar, desnudo, deixou-me por um fio.
O teu norte se fez, o meu rumo ditado;
Quedei-me exasperado, ao teu mover cativo.
Quase morri, mas vivo, porém desatinado,
Eu me senti domado por teu passar altivo.
Ao ver passar-te linda, com teus doces meneios
Olhei com mil receios de ser notado em falta;
Guardei a voz incauta, e os olhos dos teus seios,
Enquanto sentia o veio de um desejo que assalta.
Quando te vi passar, senti o teu perfume
E vi tua luz no lume que escorria da fresta;
Notei então a aresta, em mim quase ciúme,
Por não tocar teu cume... Silêncio em minha festa.
Quando passaste perto, desejei-te escondido,
Pois não achei sentido em te amar depressa.
Mas se o querer não cessa, deixa-me combalido,
Pois teu olhar bandido, me chama e não confessa.
Quanto te vi chegando, foi quase uma visão,
Trazendo a ilusão de que eras qual miragem
Que traz, nessa passagem, desejo e emoção,
Quase uma comoção, mas some na voragem.
Quando vi teu passar, quase em desespero,
Eu desejei-te inteiro, quis te chamar pra perto;
Mas só senti deserto, achei-me em destempero
Passavas distante, era só exaspero, iludo-me de certo!
Oh, linda luz que passa, trazendo devaneios!
Nesse quadril, nos seios, no olhar tão majestoso;
Concede-me esse gozo de andar no teu passeio,
Achar teus entremeios, e te seguir garboso!
Pois se te vejo ao longe, meu olhar se embevece
E preciso de prece, pra não pecar contigo!
A taça do teu umbigo, qual Salomão me aquece;
Enquanto o olhar me desce às zonas de perigo.
Seria meu castigo o te avistar distante,
Fazer-me abjurante, a relutar em amores?
Ah, sina! Quantas dores, querer tão abrasante,
Que faz do olhar amante o rei dos pecadores!
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