Às vésperas de mais uma celebração do Natal - onde muitos ocidentais já nem lembram que a festa tem como pretexto a celebração do nascimento de Jesus - editamos um texto intitulado "O Natal rediscute a verdadeira imagem de Cristo: branco ou negro?", publicado no site Conexão Jornalismo em 2014, que traz importante reflexão sobre as relações étnico-raciais que circundam as narrativas e crenças religiosas a respeito do nascimento de Jesus. Assim como fizemos em nosso livro - "Um Negro no Gólgota", Editora PerSe, 2015 - o texto aborda e reforça evidências bíblicas e extra-bíblicas de que o Jesus nórdico, de pele e olhos claros seria apenas uma criação de artistas e teólogos europeus, adotada para a difusão da religião cristã no Ocidente mas que acabou por consolidar preconceitos raciais. Confira e reflita a partir do texto.
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A candura nas frases bonitas do Natal em geral vem acompanhadas de um
Cristo louro, olhos claros, traços finos e olhar terno. Mas há muito
tempo cientistas analisaram os povos nascidos na mesma região onde teria
surgido Jesus de Nazareth e reprovado a imagem europeizada do messias.
Mas a pergunta é: fosse ele de fato negro como pintam os homens das
ciências, o amor e as mensagens de paz teriam de fato a mesma força
entre os fieis?
A edição da Revista Afro abordou o tema recentemente:
A
figura de Jesus Cristo como um homem branco, de cabelos lisos
compridos, traços finos e delicados, e olhos azuis, ficou marcada
durante séculos no imaginário universal graças à sua representação em
obras de arte, filmes, espetáculos, e afins. Porém, existe uma grande
polêmica em torna da sua real aparência. A maioria insiste em confirmar
sua beleza alva, mas, há indícios fortes que comprovam o oposto.
Alguns
cientistas já criaram, inclusive, uma imagem que mostra como seria o
rosto de Jesus, de acordo com os padrões geográficos do território em
que ele vivia. A perspectiva passa bem longe da imagem que temos hoje,
que segundo alguns, foi forjada nos padrões de beleza ocidentais.
A
principal teoria é de que a maioria das figuras humanas já produzidas
para retratar o "filho do homem" foram confeccionadas na Europa por
artistas brancos. Dessa forma, a sua imagem teria seguido padrões de
estética do período histórico em questão. Além disso, a própria Bíblia,
em diversas citações, mostra que Jesus poderia muito bem ter sido um
homem negro.
Antes de tudo: ele nasceu em Belém de Judá, região
que, à época, pertencia a África! Sim, indivíduos brancos eram raros
naquelas bandas. Até a construção do Canal de Suez, Israel fazia parte
do continente africano, e esta visão perdurou até 1859, quando o
território passou a integrar a Ásia.
Outro forte indício de que
Jesus não era branco é que ele era da Tribo de Judá, uma das tribos
africanas de Israel. Explica-se: os ancestrais masculinos de Jesus vêm
da linha de Sem (miscigenados). No entanto, a sua genealogia foi
misturada com a linha de Cam (negros) desde os tempos passados em
cativeiro no Egito e na Babilônia.
O antepassado direto de Jesus
através de Cam é narrado em Gênesis: Tamar, a mulher Cananéia (negra)
fica grávida de Judá, e dá à luz aos gêmeos Zerá e Perez, formando a
Tribo de Judá, antepassados do Rei Davi e de José e Maria, os pais
terrenos de Jesus.
A farsa de sua cor clara
Outra
prova: não foi por mero acaso que Deus enviou Maria e José ao Egito com
o propósito de esconder o menino Jesus do Rei Herodes, como é citado no
livro de Mateus, do Novo Testamento. Ele não poderia ser escondido no
norte da África se fosse um menino branco. Não por proteção militar, já
que nessa época, o Egito era uma província romana sob o controle romano,
mas porque o Egito ainda era um país habitado por pessoas negras.
Assim,
a família teria sido apenas mais que fugiu para o Egito com a
finalidade de se misturar a outras famílias negras. Se Jesus fosse
branco, loiro, e de olhos claros, teria sido no mínimo complicado de ele
se misturar aos egípcios negros, certo?
E ainda citando a
Bíblia, no livro Apocalipse ele é chamado de o "Cordeiro de Deus",
segundo a Escritura Sagrada, com seu cabelo lanoso, sendo comparado a lã
de cordeiro, e os pés com a cor de bronze queimado, uma aparência
semelhante a da pedra de jaspe e de sardônio, que são geralmente pedras
amarronzadas.
As provas não mentem, mas, para muitos ainda há
bastante controvérsia. As cores das pedras citadas em Apocalipse, jaspe e
sardônio não são únicas e absolutas, são de diversas possibilidades.
Portanto, se Jesus era negro ou não, provavelmente a humanidade nunca
vai saber. Mas seus ensinamentos continuam: independetemente da cor,
somos todos iguais.
Disponível em:
http://www.conexaojornalismo.com.br/todas-as-noticias/o-natal-rediscute-a-verdadeira-imagem-de-cristo-branco-ou-negro-0-36552.
Acesso em 19/12/2015.
Leia mais sobre o tema em nosso livro (disponível em http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/WF2_BookDetails.aspx?filesFolder=N1430318234879):
Abraço e cheiro!
Irenilson Barbosa.
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