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quarta-feira, 14 de maio de 2014

SÓ PRA QUEM NAMORA

Irenilson de Jesus Barbosa[1]


casal-de-namorados (5)

Quem namora agrada a Deus, seja gente pobre ou rica. 
E quem enamorado fica, recebe dádiva sem rival,
É quando, sem nenhum mal, mais encantando tudo fica
E assim também se dignifica a vida em versão natural.

Namorar é a forma bonita de se viver cultivando amor.
Só mesmo quem não namorou, ignora tamanha beleza
Quando se trocam asperezas por mimos, em doce fragor,
E, quando se vive um amor, namora-se com mais lindeza!
  
Não namora quem cobra nem mesmo quem desconfia.
Pois na insegurança desfia, esse fio singelo da trama
E quem só namora se engana, suspira com nostalgia
No rememorar cada dia, realimentando sua chama.

Namora, quem lê nos olhos, mas sente com o coração
Os sim, os talvez e os não, das doces vontades do outro.
Namora quem voa solto, ao encontro do abraço em paixão
E rima com emoção, usando este verbo ou aqueloutro...

Namora, quem se embeleza em puro estado de amor
A pele melhor, o fragor, o olhar com o brilho em manhã.
Namora quem morde a maçã e imagina ter outro sabor,
Quem sente no frio calor, e enlouquece se sentindo sã.

Namora, quem bem suspira e quem não sabe esperar,
Mas espera, e tenta domar, aquela ansiedade vadia,
Quem sofre em taquicardia e em timidez, a sonhar
Pois logo cedo estará ao brilho do sol de seu dia!

Diante de sua paixão, namora, quem ri por bobagem,
Quem viaja por entre miragens e pode sonhar acordado,
Quem fica enamorado com a vida e suas paisagens
Quem só planeja a viagem, mas só viaja acompanhado.

Namora quem não ofende, quem fica sem ter respostas,
Quando aborrecido ainda gosta, mesmo despido do terno
Namora quem é fraterno; quem não pode virar as costas,
E voltando, se encosta, não deixa que o céu vire inferno.

Namora quem sonha meio-dia e entra em estado de música
Quem acha a vida lúdica e segue brincando, entre danças.
Quem fala sozinha, é criança, finge que testa a acústica;
E, ama a vida mais rústica; se alimentando em esperança.

Namora quem sente calores em horas não recomendáveis.
Quem sente os hormônios instáveis a lhe confundir toda hora;
Também é certo ao que namora, palavras gentis e afáveis
Mesmo que uns instintos inábeis aflorem já, boca afora.

Não namora quem vende, quem prende, quem tranca a porta...
Sabia que o amor entorta? Se isso acontece, fica assim:
O que era bom fica ruim, com o outro não mais se importa,
A fascinação passa, morta, sepultada, se vai... é o fim!

Não namora quem só fala em si, que é fútil, o egoísta
Esse que até despista, mas quer o outro pra glória do eu,
Pensa que o outro é seu, seu troféu, sua grande conquista;
Não dê trela a ele, resista, esse nobre é um pobre plebeu.

Não namora quem quer compreensão para a sua parte ruim.
Quem não suporta o não, só quer sim, não aceita o fatal;
Quem não vive no mundo real e não sente da vida o carmim,
Só quer rosas, cravos, jasmins, não resiste ao temporal.


Não namora o invejoso, nem o que é violento e se invoca.
Namorados cultivam momentos, tem a sua música-tema.
Então remam sentindo ao vento quando ela baixinho toca.
E, se tudo acaba, não volta, ainda lembram do som-emblema.

Os que namoram gostam de beijo, e em muitos suspiros,
De recheios de pães de queijo, de morderem o mesmo pastel,
De olhar toda noite pra o céu; divagando num colo, em retiro,
Dividir um respiro, uma empada, mesmo copo e colher de mel

Namorados amam ternurinhas que, se feitas fora de namoro,
Matam de vergonha, indecoros, e parecem coisa de ridículo,
E nos outros, então... maior mico, um inominável desdouro.
Mas, entre beijinhos, é ouro, em mansão ou discreto cubículo.

Só namora, por falar em beijo, quem beija de mil maneiras
E aprecia de forma inteira, o gostinho da boca amada.
Sabe como deve ser beijada em profundidade ou na beira,
E aquece ali a lareira, entre as chamas febris a fornada.

No namoros ficam a vagar, beijos fundo, inteiros e molhados,
Nunca poucos e jamais contados, os de língua, em assento;
Beijos livres como o pensamento, e na testa, também respeitados
Na hora certa e lugar desejado, há um beijo pra cada momento

No namoro se beija sem medo e sem preconceito.
Beijo curto, beijo de todo jeito, na face, no queixo, na nuca
Atrás da orelha, onde se futuca, o lugar que só ela conhece.
No namoro, ninguém desmerece, onde um beijo profundo cutuca

Quem namora começa a ver mais no mesmo que sempre se viu
Reparando no que era vil, e agora já tem novas cores
No bom desejar dos amores, que renasce em lampejo sutil
Em desejo mais calmo ou febril, exalando os melhores olores.

No namoro não faltam as flores, imorríveis fontes de emoção,
Tem também santidade, perdão, e com Deus, tudo fica mais fácil.
Em casebre ou em nobre palácio, sempre aflora uma grande paixão,
Mas vigora uma doce tensão, de um romance desde o seu prefácio.

Só namora também quem é dono de um lindo e irriquieto amor,
Que espera o melhor de si mesmo e do outro a quem se deseja
A quem se namora, se beija, mas também se empresta o calor
Quando a vida se faz dissabor, e um mau frio um cobertor enseja.

Só namora quem não precisa a todo tempo também se explicar,
Quem já começa pelo fim a falar, quem consegue com facilidade
Desvelar certa dignidade, quando não tem mais nada a contar;
E consegue se manifestar com clareza e com felicidade.

Quem namora vive dizendo que precisa muito conversar
É alguém capaz de escutar e perder tempo com amenidades
E com certas inutilidades, de ter tempo pra tergiversar,
E no seu bem amado pensar, degustando as afinidades.

Quem namora também precisa ter vivido entre mil palavras,
Sem pestanejar com as travas entre as fotos e muitas carícias;
Com vontade de amar em delícia, de adormecer sem ressalvas,
Enquanto percebe que a alva lhe revela as mais lindas primícias.

Só namora, quem fala da infância e da fazenda das férias,
Mesmo amáveis, são pessoas sérias, que aguardam em aflição,
O telefone tocar sem razão, e divagam por áreas etéreas,
Antes mesmo do primeiro trim... mas com voz acalmada, então...

Quem namora é quem à toa chora, quem rememora,
Quem sempre comemora as datas que o outro esqueceu.
Namora quem não morreu, quem gosta da vida, sem hora
Quem sofre, ri, mas implora e diz: “Eu serei sempre seu!”

Quem namora repara em nuvem, no gelo do rio, nos parques
Namora quem tem ataques, acorda em sonho, quem sabe teimar,
Quem se permite abraçar, quem morre risonho, ri com sotaque
 no almanaque: “Só namora quem morre, vivendo de amar.” 

[1] Poema desenvolvido livremente a partir de um texto de Artur da Távola, intitulado "QUEM NAMORA" em http://www.mensagenscomamor.com

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