Total de visualizações de página

quarta-feira, 5 de outubro de 2022

"CANDIDATO DE DEUS", "CANDIDATO DO DIABO" E "FALSO MESSIAS": CAMPANHA ELEITORAL EXPÕE PRECONCEITOS E DESCONHECIMENTO BÍBLICO



A campanha eleitoral em 2022, sobretudo no que se refere à disputa pela Presidência da República, tem deixado evidente o uso político-partidário da religião no Brasil. Os absurdos vão desde a divulgação de fake news à adoção de um candidato pelos segmentos religiosos mais conservadores e fundamentalistas e o apoio irrestrito às suas ideias como se elas estivessem amparadas nas Escrituras. 

De um lado tem os que apóiam um candidato a presidência venerado como "candidato de Deus", chegando a associá-lo à figura bíblica de Jesus Cristo de Nazaré. Este pousa ao lado de pastores pentecostais e neopentecostais e diz-se defensor da família tradicional (embora já esteja no quarto casamento) dos princípios bíblicos (embora seja defensor da tortura, do metralhamento de adversários e da facilitação do acesso a armas de fogo para a população "se defender". 

Na mesma esteira, e em aparente revide igualmente desinformado, há os que associam o tal "candidato de Deus" ao Anticristo, tendo em vista que o seu "nome de batismo" inclui um dos principais títulos bíblicos dados a Jesus, ou seja, o Messias (que significa "o ungido" em hebraico), o qual, nesta perspectiva estaria associado a falsos profetas previstos na Bíblia. Para os primeiros o segundo candidato é diabólico (pois evita enfatizar sua religiosidade como critério de elegibilidade), mesmo se declarando cristão. 

Divulga-se com videos editados e fotografias manipuladas,práticas inadmissíveis para um genuíno cristão, que ele se declara "endemoniado" e seu partido e eventuais futuros ministros vão perseguir igrejas, mesmo diante da evidÇencia de que este partido já governou por 13 anos, sem nehum registro de qualquer tipo de perseguição a igrejas. Aliás, o que se sabe, de fato, é que neste período, o suposto "candidato do diabo" sancionou várias leis de proteção à liberdade religiosa, de datas comemorativas para evangélicos (inclusive uma "marcha para Jesus" inventada por um casal de pastores neopentecostais condenados nos Estados Unidos, em 2007, por por entrar no país com 56 mil dólares escondidos — parte disso dentro de uma Bíblia!) e de respeito à diversidade religiosa no Brasil. 

É evidente por esta introducão que, embora me identifique como cristão, naturalmente não tenho nenhuma simpatia pelo tal "candidato de Deus" e por suas teses, muito menos pelo uso perverso da fé cristã que vem fazendo, endossado por pastores que, sabidamente, enriqueceram com a exploração da fé, para estabelecer crenças que vão da negação da ciência, da fome e da necessidade de educação para todos, passando pelo desdém em relação à morte de quase 700 mil pessoas durante a pandemia do coronavírus, do combate à importância da vacinação contra a COVID-19, do apoio público a torturadores, desrespeito a mulheres e perseguição a homossexuais, uso de armas em nome de Deus e do evidente desconhecimento bíblico e da própria doutrina bíblica sobre Jesus, revelados pelos seus apoiadores. 

Por outro lado, nota-se significativa ignorância do que seja a verdadeira fé evangélica por parte daqueles que juntam na mesma panela os simpatizantes do assumido fã de Ustra (conhecido e repugnante torturadora da Ditadura Militar no Brasil) e as pessoas equilibradas e defensoras de princípios bíblicos amparados nos ensinos de Jesus e que não abrem mão de sua fé no Filho de Deus, apesar dessa página trista que tem sido escrita de 2018 para cá no evangelicalismo brasileiro e até entre católicos conservadores. 

 Neste contexto político-religioso dantes inimaginável, tenho recebido em redes sociais perguntas (devido à minha formação inicial em Teologia) postagens associando a alcunha de "falso Messias" e "Anticristo" ao candidato que, para alguns é o próprio representante de Deus e para outros um ser espiritualmente execrável, onde aparecem referências bíblicas falsas (o que revela desconhecimento ou má fé) ou mesmo ininteligíveis. 

Diante desse último fato, tomei por necessário publicar aqui uma breve síntese sobre o que Jesus e os seus seguidores do Novo Testamento disseram ou escreveram sobre "falsos Cristos" ("Cristo" é a transliteração da palavra grega para o hebraico "Messias", com o mesmo significado) e "anticristo". Para tanto, estou adaptando material iá publicado em outros sites, visando a nossa reflexão. Meu objetivo é tornar mais claros para os leitores os significados dessas expressões no contexto da pregação original da igreja que se tornou conhecida como "cristã" e ajudar a reduzir este império da ignorância bíblica hodierno. Confira abaixo. 


 1. O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE FALSOS CRISTOS/FALSOS MESSIAS E SEUS FALSOS PROFETAS 

Jesus preveniu seus discípulos, dizendo, que nos últimos dias, haveriam falsos Cristos que se fariam passar pelo Messias verdadeiro e o fariam com a pretensão de serem reconhecidos, cada um de per si, como salvador do mundo. A Bíblia assim registra em Mateus 24:4-5: “Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo e a muitos enganarão.” Jesus adiantou para os seus primeiros seguidores e para todos os que tivessem acesso à sua palavra deveriam estar atentos para este que seria um dos sinais do final dos tempos, conforme a crença cristã, antes da sua Segunda Vinda, alertando-os para que não acreditassem neles. 

A Bíblia diz em Mateus 24:23-26: “Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis; porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que de antemão vo-lo tenho dito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto; não saiais; ou: Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis.” 

O apóstolo Paulo, por sua vez, avisa aos cristãos de sua época e leitores de suas cartas que tenham cuidado com os apóstolos falsos que pregam sobre um Jesus que não é o verdadeiro Jesus da Bíblia. Assim, ele diz em 2 Coríntios 11:3-4: “Mas temo que, assim como a serpente enganou a Eva com a sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos entendimentos e se apartem da simplicidade e da pureza que há em Cristo. Porque, se alguém vem e vos prega outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, de boa mente o suportais!” 
 A quem realmente estão servindo os seguidores do outro Jesus? Paulo amplia em 2 Coríntios 11:13-15: “Pois os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras.” 

Uma parcela significativa da igreja cristã, espalhada em diferentes denominações religiosas acredita que às portas da Segunda Vinda de Jesus, um grande cristo falso aparacerá de uma forma visível na terra. O escritor bíblico diz em 2 Tessalonicenses 2:3-4: “Ninguém de modo algum vos engane; porque isto não sucederá sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem do pecado, o filho da perdição, aquele que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, de sorte que se assenta no santuário de Deus, apresentando-se como Deus.” 
 
O que acontecerá a este falso cristo, e como o reconheceremos? Paulo ensina em 2 Tessalonicenses 2:8-10: “E então será revelado esse iníquo, a quem o Senhor Jesus matará como o sopro de sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda; a esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos.” 

Tragicamente, os que seguem os cristos falsos pensam que os tais são crentes genuínos cativos no trabalho de Cristo. A Bíblia diz em Mateus 7:22-23: “Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade.” (adaptado de BibleInfo.com) 


 2. O QUE A BÍBLIA DIZ SOBRE O "ANTICRISTO" 

A maioria dos cristãos que usam a Bíblia como regra de fé e prática, acreditam que a humanidade está vivendo no tempo final, na última era, na última dispensação, no último período da história da Terra. Uma das figuras apocalipticas previstas para este tempo é a do "anticristo". Mas, o que é o anticristo? EMbora não se possa afirmar com segurança que o anticristo seja uma pessoa específica, a Bíblia afirma que este sweria alguém que surgiria, opondo-se à verdade e ao próprio Cristo. 

 A este respeito, o apóstolo João declarou já no primeiro século da era cristã: “Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhecemos que é a última hora” (1 João 2:18). A palavra original em grego para “anticristo” pode ter dois significados. Pode significar “contra Cristo”, no sentido de uma pessoa ou um certo poder estar em oposição ao trabalho e aos ensinamentos de Cristo. Ou a palavra pode significar “em vez de Cristo”, no sentido de uma pessoa ou um certo poder “tomar o lugar de Cristo”, ou se revelar como uma “imitação de Cristo”. 

O texto bíblico diz que, além da vinda de um anticristo especial, já haviam muitos outros anticristos em existência durante a era da Igreja primitiva. Em 1 João 2:19 e 26 pode-se ler: “Saíram dentre nós, mas não eram dos nossos; porque, se fossem dos nossos, teriam permanecido conosco. […] Estas coisas vos escrevo a respeito daqueles que vos querem enganar”. 

De acordo com a Bíblia, que é entendida pelos cristãos como a Palavra de Deus, anticristos eram falsos cristãos que se haviam separado do grupo dos verdadeiros crentes. Eram mentirosos que afirmavam que Jesus não era o Messias quer seja pela negação de sua pessoa, quer seja pela negação ou substituição de seus ensinos. A Bíblia diz em 1 João 2:22: “Quem é o mentiroso, senão aquele que nega que Jesus é o Cristo? Esse mesmo é o anticristo, esse que nega o Pai e o Filho”. “Porque já muitos enganadores saíram pelo mundo, os quais não confessam que Jesus Cristo veio em carne. Tal é o enganador e o anticristo” (2 João 1:7). 

Assim, pode-se dizer que os anticristos são indivíduos que estão pregando um evangelho que não é o verdadeiro. É um “evangelho diferente”. Aqui convém reiterar o que Paulo diz em 2 Coríntios 11:4, 13-15: “Porque, se alguém vem e vos prega outro Jesus que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro evangelho que não abraçastes, de boa mente o suportais! Pois os tais são falsos apóstolos, obreiros fraudulentos, disfarçando-se em apóstolos de Cristo. E não é de admirar, porquanto o próprio Satanás se disfarça em anjo de luz. Não é muito, pois, que também os seus ministros se disfarcem em ministros da justiça; o fim dos quais será conforme as suas obras”. 

É importante lembrarmos que, dentro de uma cosmogonia que carece de outro tempo e espaço para ser melhor explicada, o ser visto como o “anticristo” original é Satanás, que se opõe a Cristo com a ajuda de diversos instrumentos humanos. Jesus preveniu a Igreja sobre o trabalho enganador destes falsos profetas, claramente inspirados por Satanás. A Bíblia diz em Mateus 7:15, 21-23: “Guardai-vos dos falsos profetas, que vêm a vós disfarçados em ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores. Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? E em teu nome não expulsamos demônios? E em teu nome não fizemos muitos milagres? Então lhes direi claramente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”. 
 
Mais adiante Jesus advertiu que durante o período anterior à Sua Segunda Vinda, crido por muitos como a última era da Igreja, os anticristos tentariam de fato fazer o papel de Cristo, pretendendo ser reconhecidos como o Messias regressado. A Bíblia diz em Mateus 24:4-5, 24-26: “Respondeu-lhes Jesus: Acautelai-vos, que ninguém vos engane. Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; a muitos enganarão. Porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. Eis que de antemão vo-lo tenho dito. Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no deserto; não saiais; ou: Eis que ele está no interior da casa; não acrediteis”. 

A maioria dos cristãos que acreditam na Segunda Vinda de Jesus, precedida por guerras, rumores de guerras, cataclismas naturais, avanço científico nunca visto e outros processos já evidentes em nosso tempo, também preconizam que antes dela (a despeito de divergências quanto à ordem e natureza dos eventos escatológicos) haverá uma manifestação grandiosa e final anticristo. Isso se refere a um certo anticristo que ainda “está para vir”. Mais uma vez, urge lembrar o que diz em 2 Tessalonicenses 2:3-4: “Ninguém de modo algum vos engane; porque isto não sucederá sem que venha primeiro a apostasia e seja revelado o homem do pecado, o filho da perdição, aquele que se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração, de sorte que se assenta no santuário de Deus, apresentando-se como Deus”. 

Que acontecerá a este anticristo, e como o reconheceremos? A Bíblia diz em 2 Tessalonicenses 2:8-10: “E então será revelado esse iníquo, a quem o Senhor Jesus matará como o sopro de sua boca e destruirá com a manifestação da sua vinda; a esse iníquo cuja vinda é segundo a eficácia de Satanás com todo o poder e sinais e prodígios de mentira, e com todo o engano da injustiça para os que perecem, porque não receberam o amor da verdade para serem salvos.” (adaptado de BibleInfo.com). 

Ressalte-se que este texto não tem a pretensão de elucidar todas as dúvidas ou dissipar toda a ignorância que vem sendo disseminada e explorada para uso eleitoral de conteúdos bíblicos (o que já é uma mácula na igreja dita cristã contemporânea no Brasil), mas minha expectativa é que esta breve abordagem, ajude a popularizar um pouco mais conhecimentos que fazem parte do arcabouço doutrinário cristão e esclareça alguns aspectos sobre o tema em apreciação, possibilitando que cristãos verdadeiros, assim como leitores de outros credos, entendam que o que a Bíblia nos ensina sobre expressões que estão vinda à baila em redes sociais com pouca ou nenhuma base bíblica e reflitam sobre isso. Mais adiante, em momento oportuno, nos reportaremos a temas como comunismo, aborto e outros que dividem o eleitorado cristão.

No mais, prestemos atenção em quem usa o nome de Deus com fins políticos, inclusive para sustentar suas mentiras e preconceitos e desprezemos essa prática na vida religiosa e nos processos eleitorais, agora e sempre.