Poiésis é uma palavra polissêmica de origem grega. Ela denota, entre outras coisas, a ação ou a capacidade de produzir ou fazer algo de forma criativa. Nos escritos de Platão é possível entender a poíésis como processo criativo, conhecimento e aprendizado lúdico; ação que converte o “não ser” em “ser”. Este é o nosso tempo e espaço de poiésis na educação, nos afetos, na poesia... Façamos a nossa parte e emprestemos à vida a ação criativa do ser humano! Seja bem-vindo(a)!
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segunda-feira, 23 de dezembro de 2019
NATAL DOS COVARDES
Escrito por Marcelo Freixo.
O que diriam os pregadores da intolerância, os obreiros do justiçamento, os apóstolos do olho por olho dente por dente sobre um homem que manifestou seu amor por um ladrão condenado e lhe prometeu o paraíso?
Brandiriam o velho sermonário: bandido bom é bandido morto?
Hoje, quase todos os brasileiros, inclusive os cônscios moralistas da violência que amarram adolescentes em postes para linchá-los, se reunirão com suas famílias para celebrar mais uma vez o nascimento desse homem.
Sujeito, aliás, que respondeu à provocação: está com pena?
Então, leva para casa! Pois, é.
Jesus Cristo prometeu levar o ladrão para casa. "Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso", diz o evangelho de Lucas.
Jesus optou pelos oprimidos e renegados, pelos miseráveis, leprosos, prostitutas, bandidos. Solidarizou-se com o refugo da sociedade em que viveu, contestou a ordem que os excluiu.
O Cristo bíblico foi um dos primeiros e mais inspiradores defensores dos direitos humanos e morreu por isso.
Foi perseguido, supliciado e executado pelo Império Romano para servir de exemplo.
Assim como servem de exemplo os jovens que são espancados e crucificados em postes, na ilusão de que a violência se resolve com violência.
Conhecemos a mensagem cristã, mas preferimos a prática romana. Somos os algozes.
Questiono-me sobre o que seria dele em nossa Jerusalém de justiceiros.
Não sei se sobreviveria.
É perigoso defender a tolerância, o amor ao próximo e o perdão quando o ódio é tão banal.
Como escreveu Guimarães Rosa: "quando vier, que venha armado".
Não é difícil imaginar por onde ele andaria.
Sem dúvida, não estaria com os fariseus que conclamam a violência e fazem negócios, inclusive políticos, em seu nome.
Caminharia pelos presídios, centros de amnésia da nossa desumanidade, onde entulhamos aqueles que descartamos e queremos esquecer, os leprosos do século 21. Impediria que homossexuais fossem apedrejados, mulheres violentadas e jovens negros linchados em praça pública.
Estaria com os favelados, sertanejos, sem tetos e sem terras.
Por ironia, no próximo Natal, aqueles que defendem a redução da maioridade penal, pregam o endurecimento do sistema prisional, sonham com a pena de morte e fingem não ver os crimes praticados pelo Estado contra os pobres receberão um condenado em suas casas.
Diante da mesa farta, espero que as ideias e a história desse homem sirvam, pelo menos, como uma provocação à reflexão.
Paulo Freire dizia que amar é um ato de coragem.
Deixemos então o ódio para os covardes.
Feliz Natal.
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